sábado, 9 de março de 2013


Para o século 21


Esta última semana me trouxe uma certa angústia: meus filhos não sabem de nada ainda sobre o mundo, sequer conhecem os limites da terra em que vivem, são pequenos demais; “Papai, quando eu voltar pro Brasil, a gente pode tomar sorvete?”, saindo da Gávea para Botafogo. Tempo e espaço ainda estão sendo construídos, essa inocência traz um torpor de ideias, uma geleia doce de pensamentos..., mas e o Trem azul? Dinossauros e iluminadas frações de fabulações sobre a vida, isso tudo ficará onde?
Sei que ainda terão a oportunidade de conhecer e conhecer é um prazer dos maiores que experimentamos; a liberdade que vivenciam nesse primeiro momento vai sendo substituída por nossas verdades, indicações de sentido, um GPS programado para dirigir o que podem ou não pensar, uma estética que tenta unificar o que é tão diverso.
Podemos ter algumas certezas e dizê-las, devemos orientar os caminhos para que sejam menos espinhosos, mas falo aqui de sonhos. Tenho ouvido tantas opiniões definitivas sobre todas as coisas que imagino que o final do mundo de fato está para chegar. Conheço pessoas todas inteligentes, capazes de fechar um conceito em definição em apenas um gole de vinho, isso me preocupa...e as definições são as mais secas... recentemente, bisbilhotando conversas em redes sociais, vi dois jovens discutindo acerca da morte de Hugo Chávez...o desejo de perpetuar a intolerância em nome de uma análise reles me estarreceu.
Minha humilde percepção do mundo registra e marca a incapacidade que estamos tendo de entender o que não está no default, as compras de felicidade parecem dar conta do que precisamos e ponto final...se aquele outro ali não concordar, que morra, que sonho que nada, já era la revolución...
Para o século 21, o que estará por vir? Os dinossauros entraram em extinção, mas em determinada fase de nossas vidas eles voltam com tanta força em vários formatos e texturas que parecem reais, meu filho imita o som (suposto) daquele monstruoso e adorável esquisito na luta eterna que já aprendeu de ser humano, mais forte de todos...isso me preocupa. Para o século 21, queria garantir a eles, minha menina e meu menino, a impossibilidade de tantas certezas, a fluidez do pensamento sem tantas formas pré-concebidas, substituir, quem sabe, os heróis de poliuretano por gente que pensa coletivamente.
Já sei: “ih, quanta bobagem!”

8 comentários:

  1. Como sempre, você arrasando!! Adoro seus textos, estava sentindo falta. Parabéns!!! Beijinhos, Thaísa.

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    1. Obrigado, Thaísa. Estou voltando aos poucos...grande beijo!

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  2. Gostei muito do texto Fernando, Parabéns e sucesso.
    Grande abraço, Agnaldo Aguiar

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Obrigado, Leila. Fiquei um tempo sem publicar nada por aqui, mas estou voltando. Grande beijo.

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  4. Hahahaha final genial, Fernando! Muito bom o texto, continua fazendo mais e mais

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  5. Fernando, não conhecia esse seu blog. Que texto lindo! - embora seja uma dolorosa reflexão sobre esse mundo em que vivemos. Sabia que o meu carinho por você não podia ser em vão... quanta sensibilidade!!! Parabéns, meu querido! Grata por essas belas palavras. Bjs! Leila Cunha

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  6. Excelente, parabéns, como sempre, muito perspicaz.

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