Para o século 21
Esta última semana me trouxe uma certa angústia: meus filhos
não sabem de nada ainda sobre o mundo, sequer conhecem os limites da terra em
que vivem, são pequenos demais; “Papai, quando eu voltar pro Brasil, a gente
pode tomar sorvete?”, saindo da Gávea para Botafogo. Tempo e espaço ainda estão
sendo construídos, essa inocência traz um torpor de ideias, uma geleia doce de
pensamentos..., mas e o Trem azul? Dinossauros e iluminadas frações de
fabulações sobre a vida, isso tudo ficará onde?
Sei que ainda terão a oportunidade de conhecer e conhecer é
um prazer dos maiores que experimentamos; a liberdade que vivenciam nesse
primeiro momento vai sendo substituída por nossas verdades, indicações de
sentido, um GPS programado para dirigir o que podem ou não pensar, uma estética
que tenta unificar o que é tão diverso.
Podemos ter algumas certezas e dizê-las, devemos orientar os
caminhos para que sejam menos espinhosos, mas falo aqui de sonhos. Tenho ouvido
tantas opiniões definitivas sobre todas as coisas que imagino que o final do
mundo de fato está para chegar. Conheço pessoas todas inteligentes, capazes de
fechar um conceito em definição em apenas um gole de vinho, isso me
preocupa...e as definições são as mais secas... recentemente, bisbilhotando
conversas em redes sociais, vi dois jovens discutindo acerca da morte de Hugo
Chávez...o desejo de perpetuar a intolerância em nome de uma análise reles me
estarreceu.
Minha humilde percepção do mundo registra e marca a
incapacidade que estamos tendo de entender o que não está no default, as compras de felicidade
parecem dar conta do que precisamos e ponto final...se aquele outro ali não
concordar, que morra, que sonho que nada, já era la revolución...
Para o século 21, o que estará por vir? Os dinossauros
entraram em extinção, mas em determinada fase de nossas vidas eles voltam com
tanta força em vários formatos e texturas que parecem reais, meu filho imita o
som (suposto) daquele monstruoso e adorável esquisito na luta eterna que já
aprendeu de ser humano, mais forte de todos...isso me preocupa. Para o século
21, queria garantir a eles, minha menina e meu menino, a impossibilidade de
tantas certezas, a fluidez do pensamento sem tantas formas pré-concebidas,
substituir, quem sabe, os heróis de poliuretano por gente que pensa
coletivamente.
Já sei: “ih, quanta bobagem!”