terça-feira, 29 de abril de 2014

Eu não sou macaco



—Não, meu filho, você não é macaco...
— Mas, pai, o Neymar disse que todo mundo é macaco.
— Mas foi em outro sentido...
— Mãe, o papai está desmentido o Neymar... — gritou o menino de 7 anos com força de quem quer proteger –se de um grande mal.
— Carlinhos, o papai está querendo dizer...
— Eu não estou querendo dizer nada, eu estou dizendo que nós não somos macacos e que o que o jogador quis demonstrar é que...
— Não complica, Arnaldo, você acha que o menino vai entender sua filosofia.
— Mas não fui eu que disse que nós somos macacos, estou tentando explicar pro Carlinhos que o Neymar disse uma coisa querendo dizer outra, só isso.
— Afinal de conta, pai, você está ou não está mentindo?
— Se vira, Arnaldo, a bola é tua — sentenciou a mulher, com ar de desafio.
— Bom, vamos lá: meu filho, o que o Neymar quis dizer é que todos viemos do macaco, independente de nossa cor, sabe?
O menino arregalou os olhos e ficou sem entender, parecia que o tinham colocado numa gaiola e ele teria que esperar que o trouxessem bananas para comer. O contexto ainda não tinha sido criado na sua linguagem, e a confusão estava armada.
— Pai, os jogadores de futebol são macacos? Só eles vieram dos macacos? Se for assim, quero ser jogador de futebol...
O nó aumentou e a família teve que se unir. Pai e mãe não sabiam e não queriam dizer que se tratava de um ato de preconceito do torcedor, não queriam expor o filho ao mundo estranho em que vivem, a preservação da inocência deveria ser mantida, não queriam que Carlinhos entendesse que o preconceito é criação humana.
— Perfeito, Carlinhos, se você quer ser jogador de futebol, então que seja..., mas você é gente, não é macaco...

Carlinhos se deu por satisfeito e a vida continuou alegre para o menino. O pai e a mãe seguiram vendidos...