terça-feira, 31 de maio de 2011

Alma

                                                                                   Composição : Pepeu Gomes e Arnaldo Antunes
Alma! Alma! Alma!
Alma!
Deixa eu ver sua alma
A epiderme da alma
Superfície!
Alma!
Deixa eu tocar sua alma
Com a superfície da palma
Da minha mão
Superfície!...
Easy! Fique bem easy
Fique sem, nem razão
Da superfície!
Livre! Fique sim, livre
Fique bem, com razão ou não
Aterrize!...
Alma!
Isso do medo se acalma
Isso de sede se aplaca
Todo pesar não existe
Alma!
Como um reflexo na água
Sobre a última camada
Que fica na
Superfície!...
Crise!
Já acabou, livre
Já passou o meu temor
Do seu medo sem motivo
Riso, de manhã, riso
De neném a água já molhou
A superfície!...
Alma!
Daqui do lado de fora
Nenhuma forma de trauma
Sobrevive!
Abra a sua válvula agora
A sua cápsula alma
Flutua na
Superfície!...
Lisa, que me alisa
Seu suor, o sal que sai do sol
Da superfície!
Simples, devagar, simples
Bem de leve
A alma já pousou
Na superfície!...
Alma!
Daqui do lado de fora
Nenhuma forma de trauma
Sobrevive!
Abra a sua válvula agora
A sua cápsula alma
Flutua na
Superfície!...
Lisa, que me alisa
Seu suor, o sal que sai do sol
Da superfície!
Simples, devagar, simples
Bem de leve
A alma já pousou
Na superfície!...
Alma!
Deixa eu ver sua alma
A epiderme da alma
Superfície!
Alma!
Deixa eu tocar sua alma
Com a superfície da palma
Da minha mão
Superfície!...
Alma!
Deixa eu ver!
Deixa eu tocar!
Alma! Alma!
Deixa eu ver!
Deixa eu tocar!
Alma! Alma!
Superfície
Alma! Alma!
ALMA!

domingo, 29 de maio de 2011

Germain e Margueritte


                                                                                                                            Fernando Arosa




                O cinema é o lugar onde mais me sinto fora do mundo e dentro dele. Lá esqueço de tudo e me integro nessa arte que, pelo seu tamanho, nos mostra quanto somos pequenos e grandes. É de propósito que estabeleço os opostos aqui, temos vivido na corda bamba da diferença, tentando chegar ao equilíbrio.

                Saí de casa para rir, “quero ver uma comédia”. Fomos em busca de uma e decidimos arriscar assistir a um filme com Gérard Depardieu, excelente ator que transita entre os gêneros com simplicidade e experiência. O cartaz do filme já me atraiu, parecia-me promessa de diversão leve, mesmo que não fosse uma comédia ou algo rizível. Chegamos cedo e aguardávamos a hora da exibição. Comentávamos sobre as pessoas que passavam, coisas das mais normais. As portas se abriram e saíam alguns olhos embotados, narizes sendo enxugados, ou seja, ingresso comprado e a promessa do riso indo por água abaixo.

                Que nada! Não havia risada, mas, sim, o sorriso. Margueritte e Germain, personagens vividos por Gisèle Casadesus e Gérard Depardieu, respectivamente, nos levam a compreender muitas coisas e a explicar outras. As lágrimas da sessão anterior me remetem à falta de encontros que há na nossa sociedade; as pessoas estão cada vez mais carentes de encontros que permitam a troca de pequenos saberes, de afeto, de atenção.

                Margueritte, uma mulher na terceira idade (como se diz hoje) não teve filhos e possui uma vasta cultura literária, além da experiência de vida que a permite perceber em Germain a possibilidade de um novo amigo. Encontravam-se na praça da pacata cidade do interior da França e lá conversavam acompanhados pelos pombos que alimentavam. Contavam partes da vida, liam trechos de livros e, juntos, compunham uma história de amor, amizade, afeto, carinho, adoção. Sou suspeito, pois conheço a causa de perto, mas o que vejo nesse filme é a lição da adoção.

                Germain, homem já feito, carrega o estereótipo do grosseirão, da pouca inteligência. Menino renegado pela mãe, ele trafega entre o afetivo e o ríspido, entre o amor e o desamor, entre o adulto ferido e a promessa de felicidade com a mulher com quem mantém uma relação, aparentemente carnal.

                Germain e Marguerite compõem um cenário que, se tivéssemos paciência para analisar, resolveria metade dos problemas da humanidade: atenção e adoção. Um adota o outro. Ele, sem mãe, ela, sem filho. O amor, o afeto, a simplicidade, e a aceitação das diferenças.

                Agora, já absorvido por Marguerite como um leitor sensível, atribuído a ele a inteligência que ninguém via, Germain é capaz de se tornar pai, dedicar-se ao amor, afinal, conheceu-o agora de forma completa e verdadeira.

                Minhas tardes com Margueritte, do diretor Jean Becker, mesmo diretor de Conversas com meu jardineiro (também excelente filme)nos possibilita 82 minutos de diversão e arte. Afinal, “você tem fome de quê?”