terça-feira, 6 de maio de 2014

O astronauta

- Pai, eu vou ser astronauta.
- É, filho, que bacana...
- É, eu vou na lua pra tirar aquela bandeira que está lá e colocar uma do Brasil.
- É, filho, e o que mais?
- Vou colocar 7 pirulitos lá pros alienígenas também...
- E o que mais?
- Só isso tá bom...
E o tempo corre a seu favor enquanto o pai precisa de tempo para ter tempo pra ver seu astronauta viver. Hoje o tempo resolveu dar-lhe uma trégua e, com paciência, saiu para comprar figurinhas na banca de jornal mais próxima. Ele queria ir mais longe, dizia que seu álbum ainda faltava muito pra completar... o olhar de brilho novo encheu o caminho até o jornaleiro de passado. Aquelas mãos dadas foram ligadas tão naturalmente e por instantes pai e filho só trocavam olhares e sorrisos, uma certeza de tudo e nada...
- Pai,...
- Pai,...
Não sabia se respondia ou se ouvia sua própria voz trazida de anos atrás. A voz do astronauta ou a dele? Que pai tinha que acessar? Coisas mais simples: ele, pai do astronauta. O astronauta, pai do tempo.
- E os alienígenas?
- O que é que tem?
- Como eles são?
- São grandes.- Quanta certeza!!!
- Pai, amanhã você pode vir comigo novamente aqui na banca?
Os carros passam velozes e barulhentos. Finge não ouvir.
- Pai, você ouviu?
- Sim, filho, ouvi, ... amanhã a gente volta aqui na banca, tá?
Do astronauta, ficou com o sorriso e o desejo de fincar bandeiras por aí, com ele, é claro...

Nenhum comentário:

Postar um comentário