domingo, 10 de abril de 2011

Magnum Ano 13

Fernando Arosa
27/4/03
A alguns metros de distância de um batalhão de polícia, de uma praça pública, de uma escola, enfim, no centro de um bairro do Rio de Janeiro, vejo uma cena que me chama atenção, mas naquele momento, corro para cumprir a agenda do dia. Aqueles dois adolescentes com olhar fixo na banca de jornal me intrigaram; a princípio nada de anormal, temos muitas coisas para prender a atenção num estabelecimento como esse.  Procurei, rapidamente, olhar o que possivelmente estava em mira, mas não daria tempo, o relógio corria contra mim, mais tarde mataria minha curiosidade.
Hoje, domingo, aproveitando o azul que cobria a cidade maravilhosa, saio caminhando, observando os carros enlouquecidos que aproveitam o fluxo menor de concorrentes na corrida de pista única. Lembro-me dos meninos, de uniforme, e constato o que não gostaria, na verdade, o certo não é constatar, é desconfiar, supor, enfim, o que ali estava escancaradamente exposto , dentre outras revistas, que asseguro não chamariam tanto a atenção daqueles quase adultos, é nada menos que uma publicação especializada em armas.
Propositalmente recorto o tema e pergunto: estão mais seguros com as novas medidas de segurança para o nosso estado? Conhecem agora os planos que assegurarão a ordem pública? Você é de que bonde? Você fica mais tranqüilo quando o secretário de segurança de seu estado diz que vai mandar para a “geladeira” aqueles maus policiais?...
Que importância tem o discurso na política! Imaginei nossos meninos da banca de jornal, eleitores, prontos para a guerra, ouvindo tais declarações. Como será que essas mensagens chegam a eles? Imagino que de certa forma, ao reconhecer sua linguagem, acharão, no mínimo, simpático. Li que estaremos equipados com mais sete carros para uma polícia especial..., ora, que alívio!
Penso numa crônica de Machado de Assis que em 1883 tratava com delicada ironia os maus comportados do bonde. Indicava-os dez regras do bom uso daquele meio de locomoção, dizia ter mais, em torno de setenta, mas que ali seguiam aquelas apenas. Preocupava-se com os encatarroados, com as pessoas com morrinha e tantas outras divertidas condições que, se seguidas, manteriam a civilidade. Pois então, a palavra bonde, agora é usada em outro sentido, mas que ainda carrega em sua carga semântica o conteúdo de grupo. A que pertencemos? Ao do Bonde ? Ao grupo dos que estarão na geladeira? O termo certamente está sendo estudado nas universidades, mas precisamos com urgência sair da análise acadêmica para a prática política efetiva.
Preferiria ouvir declarações menos populistas, porém, objetivamente de uma política de governo que atacasse o problema do Rio de Janeiro com olhar social, antropológico, pensando nas pessoas de todas as camadas da população que sofrem perdas diariamente, que não sabem mais sair de casa sem a incerteza do retorno. Qual o bonde? Isso não passa de brincadeira de mau gosto contra o povo. Talvez esteja representando o papel do mocinho dos filmes de antigamente, ou quem sabe, apenas um exercício de jogo político, ou ainda, um lançamento de uma nova revista.
Gostaria de ver os meninos na banca de jornal disputando as figurinhas difíceis do álbum dos ídolos do futebol. O Brasil e o Rio merecem coisa melhor.

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