quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Complexo de subtração

Fernando Arosa


                Ronda entre nós mais uma síndrome, uma sequência de eventos sintomáticos que nos permite a classificação de complexo de subtração.
                Sabe-se que precisamos classificar tudo para que a vida pareça um pouco mais segura, mas agora me sinto atingido diretamente e de forma enviesada pelo complexo de subtração, explico: perceba a fala            das pessoas que emitem opinião no seu cotidiano, muitas delas se colocam à parte de tudo. Já percebeu? Nunca se fazem incluir no objeto criticado, o que é normal, mas peço apenas um pouco só de autocrítica.
                A palavra povo é um exemplo desse complexo, afinal, povo é sempre o outro, o resto, aqueles, nunca eu.
                Nossa última eleição fortalece a definição desse mal, pois analfabeto é só o Tiririca, o desonesto é só o político, corrupto é todo mundo menos eu.
                Quando se trata de ofensa, então, a coisa fica mais complexa, pois pobreza virou arma. Circulam na Internet, nos chamados sites de relacionamento, as mais diferentes opiniões sobre Dilma e Serra, até aí tudo bem, opiniões diversas alimentam a fome democrática, nada mais saudável, porém, opiniões curtas e não fundamentadas servem apenas para fazer crescer o ódio e a segregação. Opiniões como “essa corja”, “esses pobres vão ver”, não são opiniões, são julgamentos que fazem de seus donos indivíduos que se subtraem do todo, vendo-se como especiais, aqueles que, não se sabe por que, se consideram acima do bem e do mal.
                Fico sem saber a que classe pertenço, qual grupo me identifica como, pelo menos, próximo. Serei eu rico ou pobre? Classe C ou D? Povo pode ser inteligente? Caramba, e se eu não tivesse uma religião? E se a partir de agora eu decidir me candidatar a algum cargo público, me tornarei corrupto compulsoriamente?
                Subtraio-me, então, como os outros, e percebo que não há cura para esse mal. Peço perdão por tudo que aparento ser e, por favor, “me incluam fora dessa”.


2 comentários:

  1. Caríssimo amigo. Tu sempre sábio. Alimento-me aqui, porque raros são os que tratam tão bem a nossa língua.
    Perdoe-me os exageros, sou colérico, razão pela qual recorro a este blog: a cada postagem, imensa sabedoria.
    Obrigado.

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