quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O homem enigmático

                                                                                                                Fernando Arosa 
            Ele acordou no horário de sempre, responsável, levantou-se pronto para o dia que surgia azulado.
            Notícias na TV o prenderiam em casa, porém as obrigações profissionais o expulsaram da mesa do café; beijos na esposa, filhos e rua.
            Os olhos encurtaram-se ante os raios solares fortes e irrefutáveis. Promessas de um dia de cinema. Pensava estar em um set, não se lembrava de dia tão iluminado, perfeito para sentir-se livre, com alguma filosofia, dores na alma, mas livre.
            Entrou na condução, lembrou-se da agenda cheia e desceu. Caminhou pela cidade com um ritmo ancestral, não teve pressa. Teve a justa e primitiva certeza de fazer parte daquele cenário: céu azul, linha do horizonte, mar, montanhas, pássaros... Anulou o resto que via e se integrou ao que o interessava e encantava.
            Chegou tarde ao escritório, pe´s cansados e coração e alma refeitos. Inquirido pelo atraso, respondeu:
            _ A manhã...sabem? Lembram da manhã? Estava perfeita!!! Me entreguei, só isso...

                                               ( Texto baseado em crônica de Paulo Mendes Campos – O pombo enigmático – 1962)

Nenhum comentário:

Postar um comentário