segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Preguiça

                                                                                                                      Fernando Arosa

             Tarde da noite e nada! Dia seguinte, nada. Mais uns dias, horas a fio e nada ainda. Foi assim durante uma semana, quase duas. Na obscuridade, no fundo de uma gaveta imaginária, um depósito. Fiquei por lá, sem lançar mão de minhas armas. Motivo: preguiça.
            Acordei remoendo após uma semana, com dor no corpo de tanta preguiça. Não andei, não li, não consertei a bicicleta, não arrumei o armário que me espera há seis meses, não telefonei para uns e outros, percorri um site aqui outro ali, mas escrever, nada.
            Levei e apanhei os filhos na escola, com eles eu brinquei, aprendi que baleias podem ser venenosas (pelo menos as do meu filho), constatei que minha filha já se dá o direito de ficar emburrada, o que só me causa risos, trabalhei, trabalhei, mas escrever, nada, por pura preguiça.
            Essa inércia momentânea, por vezes, se dá em outros recantos da vida. Quantas vezes deixamos de reunir nossos amigos em nossa casa, para bater um papo, jogar conversa fora, trocar sorrisos? Quantas e quantas vezes fazemos dramalhão porque trabalhamos muito e deixamos a energia parada, sem circulação, nos nossos recantos, não fazemos nossa faxina interna por pura preguiça.
            Refazendo o caminho, vi que em muitos momentos abandonamos nossos direitos porque não queremos ter trabalho. E em nome desse não querer, recuamos e recusamos nosso progresso enquanto grupo.
            Escrever não é tarefa das mais fáceis. Temos que nos expor, refletir, escolher, minuciosamente recolher do cotidiano um motivo, trabalhar a sintaxe, a semântica... Para quem pegou o gosto, uma semana é muito tempo, por isso, eis aqui o antídoto.
            Que tal marcar um almoço no final de semana com alguém que não vê há muito tempo? Não dê desculpas, hoje é muito fácil cozinhar. Por que não aproveita a sexta-feira e marca para ver a árvore da Lagoa? Se der sol, encontre a turma da praia de antigamente, mas não se deixe mais abandonar de si mesmo.

Um comentário:

  1. Textos ótimos! Continue me mandando, pois sou uma eterna apaixonada pelo bom uso das palavras.
    Da amiga,
    Cynthia

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