O carrinho era do tipo Jeep, com luzes piscando, preto, escrito Police. No alto, um emblema. Suas rodas altas. As portas abriam e, acionado o botão, ele saía em direção a algum chamado de emergência, um ladrão qualquer, um banco sendo invadido... a cabeça ia longe. Nessa época do ano, ele sempre retorna, assim como outros brinquedos. Sobretudo aqueles me faziam transformar o espaço real em fantasia, o tempo sequer existia.
A infância, da minha infância, era um recheio de vida com muitas emoções. Ficava à espera de uma corrida, de uma árvore a subir, de uma bicicleta, do colo nas horas difíceis, dos irmãos, primos e primas, tios e tias. No Natal, tudo isso era um sinônimo de reunião. O Natal da infância.
Hoje me senti na obrigação de cometer uma crônica de Natal. Sei que tudo já foi dito, mas meu Natal é sempre um retorno aos brinquedos ganhados, às emoções vividas e às expectativas no futuro do pretérito.
Adultos não esperam Papai Noel, ou melhor, fingem que não esperam. Aguardam a oportunidade de se tornarem pais ou tios (de qualquer natureza) para correr e alimentar a criança novamente. É claro que esperamos o bom velhinho. Mesmo escandalizados com os preços, com a inabilidade das pessoas, com as angústias da vida madura, estamos lá, acreditando que o renascer seja possível.
É assim que os sonhos não deixam de existir: através do sorriso do outro, do abraço, da divisão das tarefas, dos encontros, da certeza de que ainda somos possíveis.
Passei pela rua e o movimento é frenético. Entrei na galeria para pegar minhas sandálias no conserto. O sapateiro sorridente me desejou um Feliz Natal e afirmou, categoricamente, que posso andar mais uns cem quilômetros com o novo calçado, recuperado com afinco e maestria. Estou de sandálias novas e sigo com a ansiedade de ver meus filhos brilhando de alegria, renovados com nossas orações...
Um Feliz Natal para todos.
...e a certeza que ainda somos possíveis. Isso dá poesia! Hmmm
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