A Família Dionti, de
Alan Minas
A Família Dionti, texto de Alan
Minas, publicado pela Berlendis & Vertecchia Editores, é uma instigante e
deliciosa narrativa cuja experiência ficcional nos traga para o olho de um
furacão, uma espécie de desvio, uma estrada renovada, um susto, uma risada, um
suspiro de alívio, uma saudade... texto carregado de marcações, fruto de um
trabalho intenso de busca pela palavra certa, mesmo que, por vezes
(pouquíssimas), nos leve ao excesso da
adjetivação, nada compromete o encanto
da criação dos espaços e suas importâncias. Recria palavras, desenvolve um
troca-troca semântico inebriante: “Desatou o olhar, palitou o resto da comida e
das coisas não ditas agarradas entre os dentes”.
Há uma busca incessante por
universos internos que passeia em campos semânticos de raíz, sonho,
entender-se... é uma filosofia de quem conhece o mundo pelo empirismo.
Personagens que brotam dos fonemas, morfemas, da força da linguagem; uma gama
enorme de figuras que transitam ora etéreas, ora concretas nos espaços da
narrativa. Tempo e Saudade alcançam categoria de personagem, há a Água também
que lava traições, esbanja amores...
Capítulos? Quando abertos, somos
encaminhados para o olhar daquele personagem, mas, como na vida, tudo se
mistura. Personagens que têm suas ações no conceito do seu nome, por exemplo,
Sono, com letra maiúscula, que entra em cena, não apenas a brecha da vida que
temos para o descanso, mas uma persona que, sorrateiramente, domina o quarto de
Kleiton e Sirino e os faz imergir na noite.
O nome dos personagens é um
capítulo à parte: Pedro Muito, Poesina, Salvador (o farmacêutico), Intromelissa,
Dona Centenádia, Dona citronela, entre outros, trazem a leveza, a diversão, o
humor, a reflexão...esses personagens são descritos com delicadeza, profundos
segredos revelados por um narrador que desconhece imparcialidade.
Há um “Surrealismo” entre aspas
que se adensa à medida em que, sem trégua, somos submersos nas fantasias
propostas pelo enredo: açúcar puro, no mais primitivo de seu doce. “Ilusângela
usou o dedo mínimo para acionar o pequeno botão desbotado no canto da foto, deu
a partida. As engrenagens da roda-gigante voltaram a funcionar. As luzes, o
realejo, tudo alcançou um brilho intenso, e o brinquedo voltou a girar, a
girar... sem tempo para acabar.”
Há criatividade sintática, nada
que subverta por subverter, mas por torná-la também personagem dos personagens,
a estrutura da língua está a serviço de sua criação.
O enredo acontece com histórias
paralelas ricas em curiosidades: Kelton, desreprezado, se esvai enquanto Sirino,
ressequido, saudade pura, desmancha-se em terra, poeira, ciscos... Irmãos nessa
família em que Josué, pai “contido nas três letras”, manobra a ausênciafuga da
mãe... a existência do “medo de somar saudades”. O padre se consulta com
Vaidalva, a rezadeira de Mundeiró, o médico, Sofia e Samanda, disputando
bonitezas, Vô Abelino...uma beleza.
Amores, pureza, enxurradas,
vazamentos, corredeiras, uma história de muitas correntes...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCrítica instigante! Passa uma enorme vontade de viajar nessa leveza. Quero assistir!
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