domingo, 12 de setembro de 2010

Dos anéis dourados


Fernando Arosa



O mês de setembro já começado e sequer me dei conta de que agosto existiu. Temos esse problema: o tempo. A falta dele para coisas que importam e o excesso dele para o trabalho, seus desencantos e aflições e ainda o desamor. Há muito encontramos histórias contadas e vividas por pessoas de variadas origens que mostram ser o tempo a arma da desunião, do desencontro. Mas essa aqui, não.

É setembro de século XXI, a rapidez exige nossa transpiração e a sede nos abala diariamente, mas tive que parar. Precisei parar um pouco para ouvir. Reforço minha necessidade de estancar no tempo para recuperar a respiração tranqüilizadora, gravar na memória os sorrisos gratuitos de meus filhos, os carinhos de quem eu amo. Hoje, precisei parar.

Ouvi de uma senhora, amiga de alguns anos, que acabara de se despedir de seu amor, que já tinham sido compradas as alianças, as novas alianças, símbolo de confirmação de um enlace acontecido há quase cinqüenta anos, mas não houve tempo; foram quase cinqüenta anos de vida em comum, e não havia dado tempo. Ele, sem planejamento e de súbito, foi-se, largou-se em outra vida, agora fora de nossas vistas. Ela, como nas grandes obras. Perdida, sem rumo, se pergunta “o que será de mim? Sem ele, não há o que fazer”, constata e demarca seu limite.

Volto para casa apertado. Minhas dores antigas voltam, serpenteiam meus órgãos, tiram meu sono, reflexo da minha simples condição de humano. Quando retomado novamente meu estado normal, o que fica em mim são os anéis, os anéis dourados que confirmam um amor eterno, antes pensado por mim só em obras literárias.

Hoje, em mês de setembro, parei e deixo lá, naquela casa que frequentei , guardados no cofre os anéis, um tempo de lembranças e um abraço amigo.

3 comentários:

  1. Fe... queria escrever algo legal...mas to sem cabeca. Mas quis passar aqui e dizer que to gostando viu???

    bjs Fe

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  2. Fernando

    Gostei muito do seu texto. Ele nos convida a refletir sobre nossas vidas corridas e que, essas corridas nem sempre apontam para algum lugar.

    beijos,
    Ana

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  3. Beijos para Caio e a Menininha. Desculpa-me, esqueci o nome dela.
    Ana

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