domingo, 3 de outubro de 2010

... Mas eu chego lá

Fernando Arosa

                 “Obrigado”.

                “Bom dia, esse ônibus passa na Praça Sibelius?”

                 “Senhora, a Igreja é no próximo ponto...”

                “Ei, senhor, pode sentar aqui...”

                “Você precisa de alguma coisa?”

                “Pois não, posso ajudar?”

                “Motorista, o senhor pode me deixar no ponto mais próximo à estação do metrô em Botafogo?”

                E o dia corria normalmente. A turista chegada há pouco ficou abismada com tanta educação em apenas uma viagem de ônibus. Contou-me que ficara muitíssimo bem impressionada com a maneira como os passageiros daquela linha de ônibus que havia embarcado se dirigiam ao motorista, ao trocador, entre os próprios passageiros, disse-me que sentia um ar de harmonia e que essa não era a imagem que tinha sobre o povo daqui, aliás, de nenhum lugar.
                Tem certeza, Marisa - perguntei-lhe- será que não foi uma coincidência? Sei lá, acho que pode ter sido coincidência, tenho visto tanta falta de educação por aí.
                É verdade – respondeu-me – mas sei lá, me senti num mundo da fantasia onde cada um daqueles seres tivessem se tornado mais solidário, mais compreensivo, prestativo, de boa vontade.
                Insisti em dizer que nada tinha a ver com minha experiência, pois já estava meio cansado de tanto egoísmo no trânsito, de tanta falta de limite na vizinhança, no prédio, na fila do supermercado, mas ela, embevecida, tornou a citar exemplos de boas maneiras vividas em todo lugar que passou.
                Será que você anda meio estressado demais e por isso as pessoas te tratam mal? Perguntou ela sorrindo, com um ar de “você colhe aquilo que planta”.
                Fiquei com certa má vontade para responder, tornei isso claro e ela insistiu: acho que o que vivi tem a ver com o que estava sentindo: estou feliz de estar conhecendo essa cidade tão linda e aí tive a sorte de estar no lugar certo, com as pessoas certas, na hora certa, será que é isso?
                Certamente, Marisa viveu o que é possível, é claro que não podemos negar que ainda há no mundo gente que entende de gente, gente que sabe tratar bem os outros, que sabe conviver coletivamente, é claro que há. Na verdade, o exercício da educação e da tolerância e da gentileza e da solidariedade é que darão jeito nessa desordem.
                Resolvi entrar num ônibus com um pouco mais de resolução positiva. Perdi logo a paciência porque não havia troco para R$10,00. Assim não dá, né? Mas eu chego lá.
               


          




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