sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Paráfrase e cinismo

Fernando Arosa 


            Como curioso que sou, ando , voltando para casa, a observar as pessoas, a ouvir conversas alheias, a reparar naquilo que faz do dia algo mais interessante; tenho que bisbilhotar, caso contrário, a vida se torna enfadonha, chatinha mesmo.
            Ouço de tudo: desde barulhos ensurdecedores que me fazem querer alcançar a perfeição da surdez assistida, como palavrões das mais variadas origens, vindas de bocas bem novas (ô criançada maleducada! Como diria minha avó). Imagino o dia em que as pessoas sejam mais cerimoniosas, sim, porque o meio-termo nossa sociedade não conseguiu alcançar.
            Vejo também muitos exemplos de que tudo se aprende: a ser cínico , ou seja, aquele que pratica uma moral ascética com um desprezo incorrigível às regras e conveniências sociais. Outro dia (eu diria com mais rancor: em várias outras ocasiões), vi uma senhora dos seus 70 anos furando a fila dos idosos, o que explica a que velocidade anda o cinismo e há quanto tempo circula entre nós, afinal, aprendemos tudo o que vemos e vivenciamos, ensinamos, também, aquilo que acreditamos (ou introjetamos).
            Aprende-se também a ser solidário, isso é um tipo de inteligência. Assisti muitas vezes sinais de solidariedade: ceder o lugar no ônibus, carregar o peso até o elevador, esperar o outro passar em cruzamento, enfim, vários sinais de que temos salvação.
            O que me preocupa por muitas vezes é o que aprendemos sem perceber. Certa vez, uma pessoa com quem tive relações de trabalho, evitando falar comigo, sem motivo, aperta o passo e quase cai de tanto que queria fugir, fiquei pensando: o que será que fiz?, Logo em seguida, vi que ela deve ter aprendido isso de alguma maneira, em algum lugar: fugir para não falar, afinal, sou de outra estirpe (divaguei). Ora, não precisa, nem sempre o outro quer falar contigo, não é mesmo?!!! Basta seguir as regras sociais e cumprimentar...
            Esta semana, recebi um convite para o lançamento de um livro cujo título eu gostei muito: Inteligência se aprende, de Patrícia Lins e Silva. É fato: inteligências de todo valor podem ser aprendidas. Fiquei curioso. É certo que o livro de Patrícia deve apresentar elementos importantes que sustentem sua tese, afinal é uma pesquisadora e educadora que fala, com certeza aprenderemos muito.
            Preciso agora observar com mais atenção o calor das ruas com a esperança de que a inteligência também seja transmutada em ações, acho que isso vai acontecer um dia...

2 comentários:

  1. O que dizer? Sou fã de carteirinha. Bueno, como sempre, escreve não apenas palavras soltas. A tua habilidade provoca, faz refletir, já disse isto antes, que bom que escreve. Tens aqui um leitor assíduo.

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