quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Passado, presente, que futuro é esse?

Fernando Arosa


── Bom dia D. Lívia!

── Bom dia, meu rapaz! Na verdade, não está um bom dia, não...

── Mas o que houve, D. Lívia, a senhora sempre inteirona?!

── É, mas hoje acordei com dor de estômago.

── Anda comendo errado, hein, D. Lívia, não pode.

── Nada...a gente fica velha e o estômago também...o que houve com aquele rapaz que vendia ervas? Nunca mais o vi por aqui.

── O Paulinho? Ah, cassaram a licença dele.

── E o meu boldo?!!!

── Agora a senhora pode pedir delivery.

── Delivery?

── É, mas só pras clientes antigas.

── Por quê?

── É clandestino...não permitem mais vender aquelas ervas aqui na feira, não.

── Quer dizer que...

── Quer dizer que a senhora pra tomar banho de descarrego, tirar quebranto, inchaço... só no delivery ou na farmácia.

── E na farmácia vende remédio contra quebranto?

── Isso eu já não sei.

── E será que atende delivery também?

── Ah, isso é certo, farmácia tem “nourrau”, D. Lívia. Eu sei é que Paulinho tá passando poucas e boas...

── Pois é...acho que vou andando.

── E não vai levar uma caixinha de caqui, umas uvas? ‘Tá tudo fresquinho.

──Acho que não, vou pra casa.

Saiu caminhando lentamente, entrou na farmácia, comprou biscoitos, balas e outros docinhos pra adoçar a vida. E foi pra casa confusa e exausta de passado.

Um comentário: