Fernando Arosa
── Bom dia D. Lívia!
── Bom dia, meu rapaz! Na verdade, não está um bom dia, não...
── Mas o que houve, D. Lívia, a senhora sempre inteirona?!
── É, mas hoje acordei com dor de estômago.
── Anda comendo errado, hein, D. Lívia, não pode.
── Nada...a gente fica velha e o estômago também...o que houve com aquele rapaz que vendia ervas? Nunca mais o vi por aqui.
── O Paulinho? Ah, cassaram a licença dele.
── E o meu boldo?!!!
── Agora a senhora pode pedir delivery.
── Delivery?
── É, mas só pras clientes antigas.
── Por quê?
── É clandestino...não permitem mais vender aquelas ervas aqui na feira, não.
── Quer dizer que...
── Quer dizer que a senhora pra tomar banho de descarrego, tirar quebranto, inchaço... só no delivery ou na farmácia.
── E na farmácia vende remédio contra quebranto?
── Isso eu já não sei.
── E será que atende delivery também?
── Ah, isso é certo, farmácia tem “nourrau”, D. Lívia. Eu sei é que Paulinho tá passando poucas e boas...
── Pois é...acho que vou andando.
── E não vai levar uma caixinha de caqui, umas uvas? ‘Tá tudo fresquinho.
──Acho que não, vou pra casa.
Saiu caminhando lentamente, entrou na farmácia, comprou biscoitos, balas e outros docinhos pra adoçar a vida. E foi pra casa confusa e exausta de passado.
Êta coisa boa, ler isto. A frase final é simplesmente sabedoria!
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