El
Cid de La Mancha
As
lágrimas aqui no Rio de Janeiro tomaram proporções celestiais. No momento em
que escrevo, chove bastante e a cidade é lavada com fôlego de faxina de fim de
festa. Sim, perdemos e o hexa não foi dessa vez. Garantimos alguma alegria durante
o campeonato, mas o fato é que a Alemanha inventou o gol do susto...explico:
assustados, sem acreditar que estávamos abrindo o campo, os jogadores fizeram
tudo o que havia sido combinado, há pelo menos seis anos. Tocaram a bola e
meteram foi gol contra o país do futebol.
A
partida começou e estávamos certos de que não seria fácil a batalha, mas
sentíamos que a guerra estava ganha. Nosso exército corria confiante,
carregados com o manto do pentacampeonato. A alegria parecia certa e as
cervejarias já alcançavam índices astronômicos de venda. O ambulante já tinha
feito encomendas para as próximas jornadas nas portas dos estádios... Minas
Gerais confidenciava-se: somos a capital!!!
Mas
os ventos chegaram com força total e os moinhos avançavam como monstros
paralisando as pernas milionárias que tentavam entender o que estava
acontecendo. A torcida ainda deu uma força, lutou com palavras e gritos, gestos
que empurravam o vento maldito para o outro lado... e nada. Inimigos sem
precedente fizeram um gol seguido de outro e foi assim, balançando o placar,
que saíram de campo para o intervalo.
Os
comentaristas da transmissão televisiva tentavam entender e diziam o que
parecia ser um discurso disfarçado de equilíbrio ensaiado, mas o desespero já
havia se instalado.
Os
guerreiros invencíveis voltaram mancando moralmente, abatidos pelas pernas
tortas e cansadas do futebol de ontem à noite. Pareciam ter passado a noite
treinando e agora não davam mais conta. No lugar do manto, via-se uma nova
tentativa de que a camisa amarela tremulasse nos braços do adversário. E o jogo
recomeçou.
No
canto do campo, avista-se Rocinante, aguardando seu Sancho Pança terminar o
jogo. Gramava aqui e ali e ouvia sem acreditar que o Brasil estava perdendo e
seu Don Quixote, mais uma vez, mudo à espera de uma grande vitória.
Não
deu. A chuva ainda lava a cidade do Rio de Janeiro e a vizinhança ficou em
silêncio, não aquele de 50. Talvez à espera de El Cid, aquele que, mesmo à
beira da morte, encimando seu cavalo, exibindo seu garbo e poder, ganha a
guerra. Mas não deu. Somos essa mistura de poder e sonho... nem sempre dá pra
ganhar.
Lendo
as redes sociais, vi que ainda somos brasileiros, pois não podemos perder a
piada, né? O texto dizia: “bem fez o Neymar que pegou um atestado”.
É
isso, agora, só daqui a quatro anos. Isso é que é duro... até a próxima.
(Publicada em www.bafafa.com.br)
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