Eu não sou macaco
—Não, meu filho, você não é
macaco...
— Mas, pai, o Neymar disse que
todo mundo é macaco.
— Mas foi em outro sentido...
— Mãe, o papai está desmentido o
Neymar... — gritou o menino de 7 anos com força de quem quer proteger –se de um
grande mal.
— Carlinhos, o papai está
querendo dizer...
— Eu não estou querendo dizer
nada, eu estou dizendo que nós não somos macacos e que o que o jogador quis
demonstrar é que...
— Não complica, Arnaldo, você
acha que o menino vai entender sua filosofia.
— Mas não fui eu que disse que
nós somos macacos, estou tentando explicar pro Carlinhos que o Neymar disse uma
coisa querendo dizer outra, só isso.
— Afinal de conta, pai, você está
ou não está mentindo?
— Se vira, Marcelo, a bola é tua
— sentenciou a mulher, com ar de desafio.
— Bom, vamos lá: meu filho, o que
o Neymar quis dizer é que todos viemos do macaco, independente de nossa cor,
sabe?
O menino arregalou o olho e ficou
sem entender, parecia que o tinham colocado numa gaiola e ele teria que esperar
que o trouxessem bananas para comer. O contexto ainda não tinha sido criado na
sua linguagem, e a confusão estava armada.
— Pai, os jogadores de futebol
são macacos? Só eles vieram dos macacos? Se for assim, quero ser jogador de
futebol...
O nó aumentou e a família teve
que se unir. Pai e mãe não sabiam e não queriam dizer que se tratava de um ato
de preconceito do torcedor, não queriam expor ao filho o mundo estranho em que
vivem, a preservação da inocência deveria ser mantida, não queriam que
Carlinhos entendesse que o preconceito é criação humana.
— Perfeito, Carlinhos, se você
quer ser jogador de futebol, então que seja..., mas você é gente, não é
macaco...
Carlinhos se deu por satisfeito e
a vida continuou alegre para o menino. O pai e a mãe seguiram vendidos...
(Publicada em www.bafafa.com.br)
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